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Ouvido Absoluto e Ouvido Relativo: Como Funciona Nossa Percepção Musical?

Ouvido Absoluto, Ouvido Relativo…

Qual a diferença entre eles? Qual a relação entre esses dois?

Você sabe o que são? Você tem algum deles?


O Que é Ouvido Absoluto?


O ouvido absoluto é a habilidade de reconhecer, de forma imediata, a nota exata de qualquer som, sem depender de uma referência externa. Uma pessoa com essa habilidade consegue ouvir uma nota isolada e dizer com precisão se é um dó, um ré, um mi bemol, um sol...


Essa capacidade pode ser extremamente úvil para músicos, especialmente em situações de performance, transcrição ou identificação de erros. Ter um bom ouvido absoluto facilita muito a percepção musical e a leitura de partituras.


Uma Analogia com o Daltonismo


Uma imagem que carrego comigo há muitos anos é pensar que quem não possui ouvido absoluto seria como um daltônico, mas em relação aos sons. Essa é uma analogia livre, claro — não é uma equivalência literal. Mas pode ser uma forma interessante de visualizar o que significa ter ou não ter essa habilidade.


Uma pessoa daltônica enxerga formas e objetos, mas tem dificuldade em identificar ou nomear certas cores. De forma semelhante, quem não tem ouvido absoluto consegue ouvir a nota, reconhecer que é música, identificar o instrumento e até mesmo características do som, mas não consegue nomear a nota com precisão.


Já quem tem ouvido absoluto seria como quem enxerga as cores nitidamente e consegue, sem pensar, dizer: "isso é verde". Com o som, essa pessoa ouve uma nota e imediatamente sabe: é um mi bemol.


O Que é Ouvido Relativo?


O ouvido relativo, por sua vez, é a habilidade de reconhecer notas e acordes com base em uma referência. Ao ouvir uma nota conhecida (por exemplo, um dó), é possível identificar outra nota pela relação de intervalo entre elas (como um sol ou um fá, por exemplo).


Essa competência é também essencial para o músico, pois permite reconhecer tipos de acordes (maior, menor, diminuto, com sétima, etc.) e deduzir as notas envolvidas, mesmo sem ter ouvido absoluto. O desenvolvimento de ouvido relativo aprimora a percepção musical e facilita a compreensão de partituras.


Treinamento e Desenvolvimento


Diferente do ouvido absoluto, que costuma surgir nos primeiros anos de vida, o ouvido relativo pode (e deve) ser treinado por meio da prática musical. Com tempo e dedicação, qualquer pessoa pode desenvolver essa habilidade.


A Importância de um Ouvido Treinado na Percepção Musical


Mais importante do que possuir ouvido absoluto é ter um ouvido treinado. Seja você um cantor, um instrumentista, um maestro ou um compositor, a capacidade de escutar com precisão o que está acontecendo é fundamental.


Um cantor precisa afinar sua voz; um maestro deve ouvir detalhadamente uma orquestra; um compositor deve imaginar e reconhecer os sons que deseja criar. Todos se beneficiam enormemente de um ouvido relativo bem desenvolvido.


Mesmo sem ouvido absoluto, é possível identificar acordes, perceber alterações em uma performance, tirar músicas de ouvido, solfejar com eficácia e atuar com excelência musical.


Um Relato Pessoal Sobre Limites e Possibilidades


Sempre fui fascinado pela regência, pela direção musical. Acredito ter uma inclinação natural para liderança. No entanto, durante minha formação, me senti limitado por não ter ouvido absoluto.


Lembro de uma experiência marcante quando adolescente: assisti a um ensaio da Orquestra de Campinas. Em meio à execução, o maestro interrompeu o grupo para corrigir uma nota específica tocada por um clarinetista. Na hora, pensei: "Nunca serei capaz de fazer isso. Logo, nunca poderei ser maestro."


Essa crença me acompanhou nos primeiros anos da faculdade. Mas, com o tempo, percebi que ela era limitante. Hoje, atuo como maestro, já regi várias orquestras e lidero meus próprios projetos. Curiosamente, mesmo em comparação com colegas que têm ouvido absoluto, exerço a regência com muito mais frequência.


Ou seja: o ouvido absoluto é valioso, sim. Mas não é uma condição obrigatória para a excelência musical. O ouvido relativo e a percepção musical treinada são ferramentas poderosas.


Para Além da Nota: A Verdadeira Inteligência Musical


Quando falamos em inteligência musical, estamos falando de algo que vai muito além da identificação de notas.


Ter ouvido absoluto ou um ouvido relativo treinado são ferramentas valiosas, mas o fazer musical também envolve ritmo, expressividade, timbre, articulação e tantas outras nuances que transcendem a simples nomeação de notas.


No fim das contas, precisamos de um ouvido sensível, criativo, expressivo. Um ouvido que ouve com o coração, com a imaginação, com a alma.


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Rafael Piccolotto de Lima - Compositor, arranjador, diretor musical, produtor musical e educador
Sobre o autor

Rafael Piccolotto de Lima foi indicado para o Grammy Latino como melhor compositor erudito. Ele é doutor em composição de jazz pela Universidade de Miami e tem múltiplos prêmios como arranjador, diretor musical, produtor e educador.


Suas obras foram estreadas e/ou gravadas por artistas como as lendas do jazz Terence Blanchard, Chick Corea e Brad Mehldau, renomados artistas brasileiros como Ivan Lins, Romero Lubambo, e Proveta, e orquestras como a Jazz Sinfônica Brasileira, Orquestra Sinfônica das Américas e Metropole Orkest (Holanda).


Criadores musicais (conteúdo educacional):

Rafael Piccolotto de Lima (conteúdo artístico):
 
 
 

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