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Série “Músicos Requisitados”: Sessão Rítmica

Atualizado: 6 de jan.

Que tal hoje fazermos algo diferente e darmos um passeio pela cozinha?


Calma, você não está na página errada!


Na música popular, a sessão rítmica é carinhosamente chamada de cozinha.


O blog de hoje é para você, músico de cozinha, de sessão rítmica, que está em busca das habilidades importantes para focar e se tornar um músico requisitado! E, se você é um diretor musical ou um criador musical e está escolhendo os profissionais com quem tocar, se apresentar e com quem gravar, o artigo de hoje pode ser um ótimo guia para te auxiliar neste processo!



Te apresentarei reflexões baseadas em mais de 20 anos de experiência trabalhando com grandes músicos, de vários estilos musicais, tanto dos Estados Unidos, como da Europa, Canadá e do Brasil.  Compartilho um pouco das minhas melhores experiências e das características que acredito serem importantes para os músicos de sessão rítmica.


Mas o que é a sessão rítmica?

A sessão rítmica é formada por todos os instrumentos cuja função fundamental no grupo musical é de tocar a levada da música, geralmente seguindo um padrão rítmico típico do gênero musical apresentado. Esses instrumentos podem também atuar em outras funções musicais, mas, dentro do grupo musical são eles que – tradicionalmente – cumprem a função de dar a base para o grupo (esse é também outro termo utilizados para esses músicos: músicos de base).


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Sessão rítmica do projeto Forró Sem Palavras em Nova Iorque (dirigido por Rafael Piccolotto de Lima).

Quais são os “instrumentos da cozinha”?

Instrumentos percussivos e instrumentos harmônicos são – geralmente – considerados instrumento de base. Bateria, pandeiro, zabumba e triângulo são exemplos de instrumentos percussivos. Piano, violão, guitarra, acordeom, cavaquinho e baixo são exemplos de instrumentos harmônicos.


A lista de qualidade importantes

São sete pontos importantes a serem considerados tanto pelos profissionais da sessão rítmica, quanto para os diretores e criadores musicais que estão em busca de músicos para seus projetos.


1 – Proficiência técnica

Essa é a base de tudo. É sobre o músico ter o controle, o domínio do seu instrumento e conseguir transformá-lo em uma extensão da sua voz (figurativamente falando), com agilidade, precisão, qualidade timbrísticas, domínio dinâmico, controle rítmico, afinação, etc.


2 – Consistência rítmica e segurança

Esse item é de extrema importância! Como geralmente é a cozinha que dá a base para o grupo musical, é necessário que esses músicos sejam muito seguros e consistentes ritmicamente. O suingue e balanço do grupo inteiro está baseado nesta base dada pela sessão rítmica.


3 – Domínio de estilo

Geralmente, músicos da sessão rítmica recebem uma partitura que não é tão específica. As partituras destes músicos geralmente apresentam a forma, indicações dinâmicas, cifras de acordes, algumas linhas específicas a serem tocadas e possivelmente algumas indicações em formato de texto. Mas, muito do que esses músicos estão tocando são escolhas dos próprios profissionais. Então eles têm que conhecer muito bem o estilo que está sendo tocado para fazer as escolhas apropriadas e “criar” suas próprias partes.


Partitura de baixo de um arranjo de "Um Tom Pra Jobim", feito por Rafael Piccolotto de Lima.

Vamos usar uma apresentação/gravação de jazz tradicional como exemplo: um baixista deve saber como criar uma linha de “walking bass”, ele precisa saber quais notas acentuar, deve conhecer o tipo de sonoridade e articulação mais apropriada para o estilo, assim como ter um controle rítmico relativo a condução do prato da bateria para que o suingue soe idiomático. Adicionalmente, se ele tiver conhecimento de como diversos baixistas de referência do estilo tocam, ele poderá fazer escolhas ainda mais sutis na sua interpretação.


4 – Suingue, balanço

Cada estilo tem um suingue, um balanço, uma maneira de acentuar as notas e de subdividir o tempo. Todos músicos de uma grupo musical são responsáveis por isso, e devem saber como tocar de maneira “balançada” de acordo com o estilo em questão. É na sessão rítmica que tudo começa – é ela que define o suingue do grupo todo.


Vou utilizar um projeto meu como exemplo, o “Forró sem palavras”. Os músicos que se apresentam comigo têm que saber tocar com o tempero da música brasileira. E esse é projeto que eu apresento com certa freqüência fora do Brasil, então eu tomo um cuidado especial para selecionar quem serão os músicos da minha “cozinha” – e, enquanto nos sopros e cordas eu tenho uma grande quantidade de músicos que não são de origem brasileira, na sessão rítmica eu favoreço músicos que sejam brasileiros e/ou tenham uma grande vivência com o gênero.


5 – Leitura

A capacidade de ler partituras é importante, principalmente, se você está tocando em um grupo grande, como uma big band, uma pequena orquestra de jazz ou mesmo uma jazz sinfônica. É preciso ter a capacidade de ler ou ter uma memória brilhante para lembrar todos os detalhes do arranjo.


Músicos que são bons leitores de partitura também ajudam a otimizar o tempo de ensaio. Se eu vou apresentar um arranjo novo e mando as partituras paras os músicos com antecedência, eu espero que todos cheguem no ensaio já sabendo as suas partes e tenham segurança na performance. As vezes também acontece de eu fazer alterações/revisões de ultima hora, trazendo novas partituras no dia do ensaio; nessas ocasiões eu espero que todos os músicos sejam capazes de seguir a nova partitura, sem perder tempo de ensaio com explicações sobre coisas que já estão notadas.


Um adendo a esse quinto ponto é o entendimento e a antecipação de forma. Um músicos que seja um bom leitor de partituras terá a capacidade de prever o que acontecerá nos compassos por vir – ao invés de simplesmente reagir ao que está acontecendo naquele momento. Esse entendimento de forma ajuda esses músicos a criarem suas partes individuais de maneira coerente e evolutiva, antecipando e preparando acontecimento musicais.


6 – Sensibilidade e criatividade no acompanhamento

Como mencionei anteriormente, muito do que acontece na sessão rítmica é improvisado. Arranjos bem-feitos pedem texturas diferentes, sonoridades diferentes. Muito disso fica a cargo do músico (a menos que o arranjador coloque especificamente qual o groove, qual o instrumento, como vai ser tocado etc.)


No geral, tendo como exemplo os meus arranjos, eu coloco notas como “sessão mais solta” ou “condução bem ritmada”. Eu preciso que o músico tenha essa sensibilidade de – ouvindo o que os outros músicos estão tocando – escolher o que tocar, quando tocar e quando tocar. Dentro de uma mesmo gênero musical, cada instrumento te uma grande variedade de opções criativas de performance. É esperado que o músico faça escolhas que vão ser apropriadas e agreguem ao arranjo.


7 – Capacidade de interatividade e a criatividade de resposta

Na música popular é muito comum a presença de solistas, solos que, possivelmente, serão improvisados. Ou seja, acontecem muitos momentos novos (e de certa maneira inesperados) na música. Uma das habilidades essenciais para os músicos de cozinha é justamente acompanhar e responder a essa criatividade instantânea.


É preciso haver uma construção coletiva, junto com os solistas. E, mesmo que não seja um momento de solo improvisado, um músico pode variar a sua parte e gerar uma nova textura musical.


Por exemplo: temos um piano e um violão, e o violão começou a fazer mais groove em uma sessão, porque ele sentiu que a música estava pedindo mais energia. O piano vai ouvir aquilo e vai ter que decidir como responder a essa nova dinâmica. Ele pode escolher fazer só cama (acordes longos e cheios), ou pode ir para um outro registro do instrumento e continuar a fazer uma levada complementar a do violonista, por exemplo.


Outras qualidades profissionais importantes

Se você chegou até aqui e gostou das minhas dicas, que tal ler um outro artigo da série “Músicos requisitados”? Nele eu trago outras questões importantes e mais gerais para o sucesso de todos tipos de músicos. (em breve)!

 

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Rafael Piccolotto de Lima - Compositor, arranjador, diretor musical, produtor musical e educador
Sobre o autor

Rafael Piccolotto de Lima foi indicado para o Grammy Latino como melhor compositor erudito. Ele é doutor em composição de jazz pela Universidade de Miami e tem múltiplos prêmios como arranjador, diretor musical, produtor e educador.


Suas obras foram estreadas e/ou gravadas por artistas como as lendas do jazz Terence Blanchard, Chick Corea e Brad Mehldau, renomados artistas brasileiros como Ivan Lins, Romero Lubambo, e Proveta, e orquestras como a Jazz Sinfônica Brasileira, Orquestra Sinfônica das Américas e Metropole Orkest (Holanda).


Criadores musicais (conteúdo educacional):

Rafael Piccolotto de Lima (conteúdo artístico):
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