Quer dizer então que agora músico também precisa ser produtor de conteúdo?
Que história é essa, Rafael?!
Hoje proponho uma reflexão da posição do músico nesse universo atual. A pressão que temos para produzir conteúdo e para termos presença ativa nas mídias sociais.
Gostando ou não, a realidade é esta!
Calma... eu explico!
Relação com o público
A relação do público com o artista mudou muito desde que ingressamos nesta era online, mais especificamente na era das mídias sociais. Hoje temos muitas possibilidades que antes não existiam; de conexão mais direta (e em escala) com o público, de conversar e interagir com as pessoas - como é feito via Facebook ou Instagram, por exemplo.
Antigamente essa conexão - com possibilidade de escala, de grandes números - só existia se o artista fizesse alguma grande publicação, seja um álbum, um livro, ou se participasse de um programa de televisão ou de radio. A realidade de hoje é muito diferente, essa conexão com o público pode ser feita do conforto de casa, do estúdio ou até mesmo da rua - gravando um vídeo de maneira informal a qualquer hora do dia ou da noite. Esta nova forma de se relacionar abriu muitas possibilidades para estarmos mais próximos de quem acompanha nosso trabalho, onde quer que essa pessoa esteja.
À propósito, sim, os vídeos que vocês assistem no perfil Criadores Musicais (links no final do artigo) são gravados da minha casa, nos horários mais inusitados!
Frustração
Eu entendo a frustração de muitos artistas, incluindo a minha até certo tempo atrás. Eu queria focar somente no fazer musical, fazer concerto, escrever músicas novas ou arranjos, fazer gravações, ensaiar ou simplesmente estudar. Eu gostaria de canalizar a energia exclusivamente para a música e não precisar dedicar tempo para fazer postagens, produzir conteúdo digital, editar vídeos, tirar fotos de divulgação ou fazer ‘stories’.
Eu já me questionei muito sobre o quanto estou produzindo musicalmente; o quanto eu poderia estar produzindo se eu não estivesse dedicando parte do meu tempo a produção de textos como este e vídeos como os que eu compartilho com vocês através das minhas mídias todas.
Mas, percebi que através destes vídeos temos uma infinidade de outras possibilidades criativas, de maneiras para nos conectar com nosso público. Temos a chance de fazer com que nossa arte seja mais do que simplesmente a música em si, seja parte de uma história compartilhada, faça parte de uma comunidade.
Música e comunidade
Não é novidade para ninguém: arte e música, música e público, público e comunidade, essas relações sempre existiram. A música, inclusive, surgiu como uma atividade social, de grupo e de integração de pessoas.
Estamos voltando – através de um novo formato – para essa questão: a relação entre comunidade e artista. Se pensarmos historicamente, a figura do compositor, do músico ou do intérprete como uma estrela separada do público, é uma “invenção” do romantismo. Até antes, os músicos e compositores eram partes das suas comunidades locais, servindo e liderando atividades sociais. Eram como líderes comunitários quando o assunto era esse lado artístico, seja através da música na igreja ou em eventos sociais, por exemplo.
Ao longo da história da música – principalmente do romantismo para frente – essa ideia da figura genial do compositor/músico ganhou força. Uma figura romântica, do gênio separado da sociedade. Sim, isso pode existir, mas eu acredito que a maioria dos artistas estão geralmente integrados com a sociedade.
Exemplos distintos (da nossa era)
Cada músico deve buscar o que mais faz sentido, tanto para seu trabalho, quando para seu público. Trago aqui três exemplos distintos de artistas que – de maneira relativamente independente – fazem bom uso das tecnologias disponíveis: Emmet Cohen, Nelson Farias e Maria Schneider.
Emmet Cohen é um jovem pianista que ganhou grande popularidade dentro do universo do jazz durante o período da pandemia. Ele aproveitou as circunstâncias para criar uma série de livestreams semanais transmitidas do seu apartamento no Harlem (Nova Iorque) com seu trio. A cada semana, ele convidava um artista de renome para tocar com ele. Milhares de pessoas eram atraídas semanalmente para suas transmissões online em tempo real, e tudo era produzido através de uma estrutura audiovisual relativamente simples mas de ótima qualidade que era montada e desmontada semanalmente em sua casa. Eu sei disso pois eu fui co-produtor de duas dessas transmissões para ele em semanas que o cinegrafista/produtor dele não podia fazer. Esses vídeos ao vivo eram então re-editados e postados nas mais diversas mídias, atingindo outras centenas de milhares de pessoas. Isso tudo deu a oportunidade levou Emmet a conseguir patrocínios, acordos publicitários e um grupo de fãs inscritos no seu website (com assinatura anual paga) - o que torna sua produção artística financeiramente viável.
Nelson Farias é um guitarrista brasileiro que criou seu próprio programa de entrevistas online no YouTube. Ele recebe grandes nomes da musica brasileira para conversas informais e pequenos duetos improvisados. Nomes como Hermeto Pascoal, Yamandu Costa, João Bosco e Hamilton de Holanda estão entre os convidados do programa “Café La em Casa”. Esse programa deu grande visibilidade a Nelson, com milhões de visualizações online.
Maria Schneider é uma compositora norte-americana ganhadora de múltiplos Grammys. Ela é um exemplo de alguém que foi na contramão das tendências de compartilhamento gratuito nas mídias sociais. Ao invés disso, ela construiu um base fiel de fãs na plataforma ArtistShare. Através dessa plataforma paga ela oferece suas gravações, partituras, vídeos de 'making of', e muito mais. É dessa maneira que ela financia seus projetos musicais de forma independente. Aliás, ela foi a primeira pessoa a ganhar um Grammy com um álbum gravado e financiado diretamente pelos seus fãs.
Daqui para frente
Podemos nos sentir meio perdidos em meio a todas as possibilidades (e “exigências”) dessa nova era da comunicação. Eu entendo você, ainda me sinto assim às vezes. Mas, vejo isso tudo com entusiasmo!
Hoje nós temos estas ferramentas todas, com as mídias online, para nos relacionar tanto com quem nos admira como também com os outros artistas, com nossos colaboradores. As diferentes formas de nos conectar, seja por vídeos, imagens e/ou textos (como esse blog) nos permitem um universo de expansão para fortalecer a figura do músico integrado à comunidade.
Se você não sabe muito bem por onde começar ou o que é preciso para iniciar sua produção de conteúdo, te convido a ler outro texto que já publicamos por aqui: "Será que suas gravações estão te boicotando?"
Mas, se você já se arrisca com algumas gravações e não está satisfeito com os resultados, que tal se inscrever para o meu curso “Fundamentos da produção de áudio e vídeo para músicos”?
É importante entender que se você é um criador musical, se você é um músico, é de extrema importância você ser pro ativo em relação a sua divulgação. Aconselho você a pensar o que está fazendo e como está trabalhando sua interação com seu público!
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Confira também meus cursos online: “Processos Criativos” e “Fundamentos da produção de áudio e vídeo para músicos”.
Sobre o autor
Rafael Piccolotto de Lima foi indicado para o Grammy Latino como melhor compositor erudito. Ele é doutor em composição de jazz pela Universidade de Miami e tem múltiplos prêmios como arranjador, diretor musical, produtor e educador.
Suas obras foram estreadas e/ou gravadas por artistas como as lendas do jazz Terence Blanchard, Chick Corea e Brad Mehldau, renomados artistas brasileiros como Ivan Lins, Romero Lubambo, e Proveta, e orquestras como a Jazz Sinfônica Brasileira, Orquestra Sinfônica das Américas e Metropole Orkest (Holanda).
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