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Músicos em Nova Iorque: os dois lados da moeda

Quantas vezes você já ouviu alguém idealizando ou sonhando em se mudar para Nova York em busca de um sonho artístico? Eu já ouvi muitas, e inclusive sou uma delas! Mas, será que é tudo aquilo que se imagina? Vale a pena todo investimento?


Sei que tem muita gente com curiosidade para saber como é a vida fora do Brasil e, principalmente aqui em Nova York, considerada uma das capitais da música e da arte no mundo.

Eu moro aqui – na realidade, atravessando o Rio Hudson, em Jersey City – e tenho mais de 6 anos de experiência para falar com propriedade sobre esse assunto. Respondo as perguntas de abertura desse artigo a partir da minha vivência, das dores e delícias de viver na Big Apple.



Panorama Geral

Já se imaginou em um lugar onde tudo acontece 24 horas por dia, 7 dias da semana? Ou estar em um local que é considerado o centro econômico do mundo, ao mesmo tempo em que é o reduto de todas as nacionalidades, o berço das principais tendências da moda e um caldeirão cultural? Isso tudo e mais tantas outras características marcantes desta cidade cosmopolita?


Nova York é uma novidade todos os dias, inclusive para quem mora aqui. A cada esquina, é possível viajar entre as mais modernas instalações e os prédios centenários que contam a história da “Capital do Mundo”.


E eu te garanto, tudo isso pode ser sufocante e muito fascinante simultaneamente. Afinal, a moeda sempre tem dois lados!



O lado bom

O lado bom é exatamente porque tem muita coisa acontecendo. Muita gente boa instalada aqui, muitos espaços de arte, muitos teatros, salas de concerto, muitos bares de jazz. Talvez, não exista nenhuma outra cidade no mundo, até onde eu sei, que tenha uma concentração tão grande de espaços para realizações artísticas. Espaços ocupados por gente do mundo todo, muitos artistas que vêm para a cidade apresentar o seu trabalho e poder colaborar com outros artistas.


Toda esta efervescência é maravilhosa porque são oportunidades de produzir e estar onde as coisas estão acontecendo. É poder estar conectado e criar oportunidades através dessas conexões, mostrar seu trabalho. É uma chance de alguém gostar do seu trabalho e te chamar para participar de projetos interessantes.


Outro ponto forte é pode estar ao lado de grandes talentos com quem colaborar. Independentemente de ser um compositor ou instrumentista, se você tem talento, tem um bom projeto, uma boa ideia e um trabalho sério, não vão faltar pessoas do mais alto nível para trabalhar com com você.


Falo isso por experiência, porque trabalhei com gente muito boa aqui em NY, por exemplo, alguns dos principais músicos brasileiros que vivem fora do Brasil, como Rogério Boccato (bateria e percussão), Romero Lubambo (violão) e Itaiguara Brandão (baixo). Assim como também trabalhei com tantos outros músicos internacionais. Tive a oportunidade - por exemplo - de escrever arranjos para um álbum da Fleurin, que é casada com o Brad Mehldau. No meu primeiro ano em Nova Iorque eu escrevi dois arranjos para o álbum dela que contava com o marido como pianista, Chico Pinheiro na guitarra e outros grandes músicos.


Então estar aqui te dá chances de trabalhar com alguns melhores artistas do mundo, mas já aviso: não é fácil não.



O lado nem tão bom assim

Estas e outras razões citadas acima também explicam o porquê Nova Iorque pode ser também a pior cidade para os artistas. NYC é uma das cidades mais competitivas, onde é mais difícil de brilhar. É muito mais fácil ser um peixe grande em um aquário pequeno. Já num aquário grande é difícil ser um peixe grande, a gente acaba sendo um peixe pequeno (pelo menos a princípio).


Me tomo como exemplo. Enquanto compositor de jazz e de música erudita, se eu estivesse em outros cenários, talvez eu fosse uma das pessoas com maior currículo, maior destaque em função do eu já fiz. Doutor em música, indicado para o Grammy, vencedor de dezenas de prêmios internacionais. Aqui em Nova York, assim como eu tem muito outros que já conquistaram coisas parecidas. Portanto, é um mercado saturado de artistas.


Falando também deste lado negativo, é um lugar onde muita gente quer morar, onde muita gente bem-sucedida financeiramente mora. Isto torna Nova Iorque uma cidade extremamente cara. A menos que estejamos nos apresentando nos lugares de maior prestígio - como o Carnegie Hall ou Lincoln Center - com certa frequência e sucesso de público, é muito desafiador se manter financeiramente com um mínimo de conforto.


Se as apresentações são intermitentes, e em espaços menores, muitas vezes o cache não é tão alto, principalmente comparado aos altos custos de vida. Nesse sentido é uma cidade muito dura, muito difícil de se manter. Realmente fica aqui quem aguenta. É daí que vem aquela frase famosa: "if you can make it in NYC, you can make anywhere" ("se você consegue dar certo em Nova Iorque, você consegue em qualquer lugar").


Em resumo: você tem que ser muito bom, trabalhar muito, dar uma certa sorte, estar sempre ativo, se reinventando e fazendo as coisas acontecerem.


Mas, afinal de contas, vale a pena?

Não há uma resposta certa. Tudo depende dos seus objetivos e do quanto você está disposto a se dedicar, tanto no lado artístico, quanto no lado de "networking" (conexão), negócios, e "marketing" (divulgação e propaganda). E isso tudo além de suportar a dureza da cidade.


É importante fazer uma autoavaliação realista quanto as suas habilidades atuais e o quanto você está apto a se destacar e ganhar espaço nesse cenário. Cenário que, como falei, reúne muitos dos maiores talentos do mundo. E, claro, ter um plano A, B e C, enquanto você é apenas mais um na multidão. Isso é assunto para outro artigo: como se preparar para aproveitar as oportunidades que podem aparecer.

 

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Rafael Piccolotto de Lima - Compositor, arranjador, diretor musical, produtor musical e educador
Sobre o autor

Rafael Piccolotto de Lima foi indicado para o Grammy Latino como melhor compositor erudito. Ele é doutor em composição de jazz pela Universidade de Miami e tem múltiplos prêmios como arranjador, diretor musical, produtor e educador.


Suas obras foram estreadas e/ou gravadas por artistas como as lendas do jazz Terence Blanchard, Chick Corea e Brad Mehldau, renomados artistas brasileiros como Ivan Lins, Romero Lubambo, e Proveta, e orquestras como a Jazz Sinfônica Brasileira, Orquestra Sinfônica das Américas e Metropole Orkest (Holanda).


Criadores musicais (conteúdo educacional):

Rafael Piccolotto de Lima (conteúdo artístico):
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