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O ensino formal de música vale a pena?

Atualizado: 20 de fev. de 2023

Você já deve ter ouvido falar de grandes músicos que nunca passaram nem perto de uma universidade ou mesmo de um conservatório, assim como outras tantas histórias de mestres que se formaram no ambiente acadêmico.


Será que é preciso ser formado em uma faculdade de música ou em um conservatório para ser músico profissional?


Existem dois grupos diferentes de defensores ferrenhos: aqueles que acreditam na necessidade da formação acadêmica e os que acreditam que o ensino formal de música é uma perda de tempo.


Os primeiros têm como argumento que a graduação em faculdade/universidade/conservatório pode acrescentar muito e tornar o músico muito melhor e mais completo.


Já o segundo grupo acredita que música se aprende na rua, que música é uma questão de dom, algo que deve ser natural do indivíduo e não ensinado por uma instituição.



Seu caminho reflete seus objetivos

A escolha de investir o tempo (e possivelmente dinheiro) em um curso formal de música depende muito dos seus objetivos musicais, de como você entende e leva a música. Depende da posição que você quer ocupar dentro do mercado musical, além da sua personalidade.


Aprendendo música "na noite"

Se sua escolha é tocar em festas, em bares, e/ou fazer parte de uma banda - objetivos muito mais práticos - o ensino formal de música não necessariamente fará tanta diferença. Na realidade, grande parte dos músicos populares que são conhecidos nas grandes mídias talvez nem saibam ler uma partitura.


Então sim, é possível ser um músico profissional sem passar por uma faculdade, universidade ou conservatório. É possível aprender sozinho, “de ouvido”, ou ter alguém com quem você toque e vá te ajudar indiretamente a desenvolver suas habilidades, dando dicas e demonstrando. Boas gravações podem cumprir um papel bem parecido, são ótimas referências. Através delas você pode ouvir, se inspirar (e replicar) o trabalho de outros músicos.


Se esse é o seu perfil, talvez seja mais proveitoso usar seu tempo (e dinheiro) de maneira independente, aprendendo "na rua", "na noite". Seja aprendiz de algum músico do gênero no qual você quer atuar, e/ou - se você já for bom o suficiente - trabalhe sendo um músico acompanhante desse artista que você admira.


Recital de formatura na UNICAMP (2009) - Rafael Piccolotto de Lima e Coletivo Orquestral

Aprendendo música na academia

Por outro lado, se você quer estar preparado para atuar em diversas posições diferentes dentro do mercado musical, se você quer trabalhar com educação, ou mesmo na produção de uma música mais experimental, de vanguarda, a formação acadêmica pode te ajudar muito. Essa formação também pode ser muito útil se você deseja ocupar posições de liderança, direção musical.


Em instituições de ensino musical, o aluno tem acesso a métodos comprovados e programas de estudo planejados por especialistas. Além disso, a academia se desenvolveu de uma maneira para dar uma formação mais holística e integral para o aluno. Entendendo-o como um artista completo, além da performance; formando-o como um pensador, um teórico musical.


Durante o período acadêmico, é possível desenvolver aptidões para fazer muitas coisas diferentes dentro do universo musical, ser um músico muito mais completo. Para estes e outros casos, uma formação universitária ou em conservatório é essencial, já que existe um leque maior de habilidades a serem desenvolvidas. Algo que seria muito mais difícil conseguir sozinho, ou com um único mestre.


Rafael Piccolotto de Lima na cerimônia de formatura de Doutorado em Música na Universidade de Miami. Gary Linday mentor de composição de jazz e prática de estúdio a esquerda, e Lansing Mcloskey (Harvard) professor de composição erudita à direita.

5 Vantagens além das aulas

E além das aulas em si, do conteúdo todo, o ambiente acadêmico também oferece outros benefícios que são de grande valor para os alunos:

  1. Infra-estrutura: Espaços físicos e equipamentos disponíveis aos alunos, incluindo salas de concerto e auditórios, estúdios de gravação, salas de ensaio, salas de estudo, biblioteca, arquivo de partituras, além de instrumentos musicais (como pianos, por exemplo);

  2. Programação artística: Concertos, recitais, e outros eventos programados ao longo do ano, tanto com apresentação de alunos e grupos da universidade, quanto com músicos convidados de renome.

  3. Corpo Docente: Variedade de professores e mestres, cada um com sua especialidade;

  4. Corpo Discente: Colegas que nos inspiram e podem ser nossos colaboradores.

  5. Ambiente seguro: Erros são encarados como parte do processo de aprendizado e evolução, e não tem consequências tão severas como no mercado de trabalho. No ambiente acadêmico uma performance ruim vai te levar a uma nota baixa e talvez uma situação embaraçosa frente aos seus colegas e professor. O mesmo erro em um contexto profissional poderia ter consequências sérias para sua carreira.


Rafael Piccolotto de Lima e Gary Linday (professor da universidade de Miami) acertando os detalhes com aluno que iria ter seu grupo gravado pelo estúdio do departamento de jazz.

O preço a pagar

Um fator importante a ser levado em consideração é o investimento financeiro no estudo. No Brasil temos a sorte de ter grandes universidade e conservatórios que são gratuitos para os alunos. Instituições sustentadas pelo governo. Eu estudei em uma dessas universidades, a UNICAMP.


Nesses casos, para mim não há duvida que se você deseja ser um músicos profissional e conseguiu entrar em uma dessas instituições, você deva aproveitar essa oportunidade. Vai sair mais barato ter uma formação universitária completa do que ficar pagando por aulas particulares e cursos online durante anos, ou pior ainda, perder tempo tentando descobrir as coisas sozinho.


Quando falamos sobre escolas/faculdades particulares, ai temos que levar em consideração o investimento financeiro - que pode ser alto. Você tem que pensar bem na sua realidade e seus objetivos pessoais antes assumir os custos todos associados com essa escolha.


Estude, independente de onde estiver!

Você deve ter percebido que eu sou um defensor do estudo formal. Mas, mais do que da universidade ou conservatório, eu sou um defensor do aprendizado, do saber. Se você não vai para a universidade, mas você estuda, eu acho que está tudo bem! Afinal, quem quer, quem busca conhecimento, mesmo que sozinho, pode chegar longe. Principalmente nos dias de hoje, com esta ferramenta magnífica que nos possibilita acesso à quase todo tipo de conhecimento: a internet.


E o talento, qual seu papel?

Aproveito esse artigo para desfazer um mito relativamente comum! Um entendimento errado sobre talento: a idéia perversa que quem talento não precisa estudar, que alguém que seja talentoso já nasceu sabendo e deve pular etapas.


Sim, existem pessoas com certas facilidades e aptidões. Mas cabe a elas se dedicarem e desenvolverem estas habilidades, aproveitando então todo potencial que essas aptidões oferecem.


Entenda que existem dois grandes perigos associados a esse mito:

  1. Músicos com potencial não conseguem resultados imediatos e acreditam que não são talentosos o suficiente, e por consequência ficam desmotivados ou até mesmo desistem da música.

  2. Músicos talentosos acreditam que não precisam colocar energia e dedicação na sua música; deixam de estudar, praticar e se aperfeiçoar como poderiam. Ficam dependentes simplesmente do que conseguem fazer com pouco estudo, ou seja, muita aquém do real potencial que eles tem.


Acredito que o estudo, formal ou informal, é a melhor maneira de potencializarmos os nossos talentos. Por isso, toda hora é hora! Acadêmico ou não, particular ou em grupo, presencial ou online; estude!


Quer entender mais sobre os métodos de estudo musical? Leia esse artigo sobre 3 grandes vantagens do ensino online.

 

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Rafael Piccolotto de Lima - Compositor, arranjador, diretor musical, produtor musical e educador
Sobre o autor

Rafael Piccolotto de Lima foi indicado para o Grammy Latino como melhor compositor erudito. Ele é doutor em composição de jazz pela Universidade de Miami e tem múltiplos prêmios como arranjador, diretor musical, produtor e educador.


Suas obras foram estreadas e/ou gravadas por artistas como as lendas do jazz Terence Blanchard, Chick Corea e Brad Mehldau, renomados artistas brasileiros como Ivan Lins, Romero Lubambo, e Proveta, e orquestras como a Jazz Sinfônica Brasileira, Orquestra Sinfônica das Américas e Metropole Orkest (Holanda).


Criadores musicais (conteúdo educacional):

Rafael Piccolotto de Lima (conteúdo artístico):
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