Você já ouviu a expressão "música para músicos"?
Lembro que, durante meus estudos na universidade, essa frase aparecia de tempos em tempos. Ela se referia a um tipo de música que agradava aos músicos, mas que não necessariamente agradava ao público em geral.
Mas o que define esse tipo de música?
O que é "música para músicos"?
Esse é o tópico da nossa reflexão de hoje.
Neste blog gostaria de compartilhar alguns pensamentos sobre o conceito de "música para músicos" e como ele se relaciona com a experiência de quem ouve, sejam músicos ou não.
A Linguagem da Música
Música é uma linguagem, uma forma de comunicação. E, como toda linguagem, ela carrega mensagens, emoções e histórias que nem sempre são compreendidas da mesma maneira por todas as pessoas. Será que músicos e não músicos ouvem música de formas diferentes?
Para ilustrar essa ideia, gosto de fazer uma analogia com o humor. Quando me mudei para os Estados Unidos, apesar de já falar inglês, eu ainda enfrentava dificuldades para entender piadas ou referências culturais específicas durante conversas informais com amigos. Eu via todos rindo, mas não entendia o porquê. Esse distanciamento é parecido com o que acontece na música: o que encanta músicos treinados pode passar despercebido ou até parecer sem graça para um público leigo.
A diferença está na profundidade com que cada grupo percebe e se relaciona com a linguagem musical.
A Complexidade da Comunicação Musical
Assim como ajustamos nossa linguagem ao nos comunicar com crianças ou adultos, a complexidade da música também varia dependendo do público. Uma pessoa sem treinamento musical provavelmente não vai perceber ou acompanhar certas nuances que encantam músicos experientes. Por outro lado, músicos costumam se fascinar por detalhes intrínsecos que muitas vezes são invisíveis para o público geral.
Essa diferença de percepção pode ser vista como uma das razões para a crítica à "música para músicos". A ideia é que essa música, por vezes, se torna técnica demais, afastando-se de uma comunicação mais acessível e direta.
Diferentes Públicos, Diferentes Expectativas
É essencial refletir sobre para quem estamos criando música. Existe uma dualidade: criar para si mesmo, o que pode ser visto como "para dentro", ou criar para o público, "para fora". A maioria de nós, músicos, tem esse primeiro impulso de criar algo que nos apaixona, que nos encanta e que alimenta nossa própria jornada criativa. Mas também criamos para os outros — sejam nossos colegas, professores ou o público que vai consumir e assistir às nossas apresentações.
Esses diferentes públicos têm expectativas variadas, e o modo como recebemos essa música também muda. Podemos dividir o público em cinco grupos principais: músicos e não músicos, e dentro desses grupos, outras subdivisões que ajudam a entender melhor a relação com a música.
Músicos e Seus Olhares
No universo dos músicos, há três cenários que gosto de observar, com base na minha experiência universitária: os músicos eruditos, os músicos populares (especialmente do jazz) e os compositores.
Músicos eruditos: Eles tendem a valorizar a tradição, a perfeição técnica e a performance. Apreciam as grandes obras clássicas, admiram a dificuldade e a expressividade das execuções, e respeitam profundamente o que já foi feito.
Músicos populares e de jazz: Aqui, a busca é pela expressividade, pelo balanço e pela criatividade dentro da tradição. Virtuosismo, improvisação e inovação são admirados, mas sempre com um pé no que já foi estabelecido pelo gênero.
Compositores: Este grupo, embora possa transitar pelos dois universos anteriores, tem uma característica marcante: a busca pela originalidade. Para compositores, o novo e o não explorado têm um valor imenso, o que muitas vezes os leva a criar algo que, para o público leigo, pode não ser reconhecido como música.
O Ponto de Vista dos Leigos
Do lado do público não-músico, também existem divisões interessantes:
Apreciadores iniciados: Essas pessoas, embora não sejam músicos profissionais, têm um grande apreço pela música. Elas podem ter tocado instrumentos na infância, ou simplesmente desenvolveram um gosto mais refinado por diferentes gêneros e estilos musicais. Estão abertas a novas experiências e são capazes de apreciar nuances.
Ouvintes casuais: Este grupo tem uma relação mais utilitária com a música. Eles consomem o que toca no rádio, nas festas ou o que é popular no momento. A relação deles com a música é mais emocional do que intelectual, muitas vezes ligada a repetição e familiaridade.
Para Quem Estamos Criando?
Essa reflexão é central para nós, criadores musicais.
Para quem estamos escrevendo?
Para quem você quer que sua música ressoe?
Ao longo da minha trajetória, percebi que o público para quem crio foi mudando. No início, era eu mesmo — eu fazia a música que me fascinava, que eu gostaria de ouvir. Mas, com o tempo, comecei a questionar se estava excluindo outros públicos ao focar tanto nesse aspecto "interno".
Essa reflexão não tem uma resposta definitiva. Acho que, como criadores, estamos sempre experimentando, jogando novas ideias no mundo e observando as reações. Talvez o mais importante seja não se prender a um único caminho, mas explorar diferentes possibilidades e públicos ao longo da jornada criativa.
E você? Para quem você escreve suas músicas? Quem é Seu Público?
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Sobre o autor
Rafael Piccolotto de Lima foi indicado para o Grammy Latino como melhor compositor erudito. Ele é doutor em composição de jazz pela Universidade de Miami e tem múltiplos prêmios como arranjador, diretor musical, produtor e educador.
Suas obras foram estreadas e/ou gravadas por artistas como as lendas do jazz Terence Blanchard, Chick Corea e Brad Mehldau, renomados artistas brasileiros como Ivan Lins, Romero Lubambo, e Proveta, e orquestras como a Jazz Sinfônica Brasileira, Orquestra Sinfônica das Américas e Metropole Orkest (Holanda).
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