O que é necessário para que uma música - de repente - ganhe vida nas mãos de dezenas de músicos de uma orquestra?
Como um tema musical simples se transforma em centenas de páginas de partituras a serem tocadas por um grande grupo musical?
O segredo por traz disso é a arte da orquestração!
Mas, afinal de contas, o que faz um orquestrador?
Cada músico de uma orquestra tem uma parte individual que indica o que e quando ele deve tocar. Mas, quem escreve todas as essas partes? Quem faz todas essas escolhas sobre o que cada músico vai tocar? Aí é que entra a figura do orquestrador! É ele quem cria todas as partituras, seja para uma orquestra, um coro ou qualquer outra formação instrumental.
Um orquestrador precisa conhecer a fundo os instrumentos. Não necessariamente tocá-los, mas ter uma intimidade auditiva (repertório) e conceitual (técnica) para poder escrever efetivamente. Esse conhecimento e experiência vai ajudá-lo a escrever idiomaticamente para todos os instrumentos. Isso - inclusive - tem a ver com o estudo da instrumentação, que já comentei em outro artigo: "O estudo da instrumentação e a escrita orquestral."
Considerações e escolhas de orquestração
Enquanto orquestrador, ressalto duas questões principais a serem consideradas: o timbre – que podemos encarar metaforicamente como a coloração - e o equilíbrio, o balaço de poderes sonoros dos instrumentos. Paralelamente, penso nos pontos fortes de cada instrumento, suas características e nas propriedades únicas que cada um pode trazer para a orquestração.
No fazer musical, um orquestrador se depara com questões como:
Quais instrumentos estarão tocando em cada parte da música?
Qual nota, qual linha cada instrumento vai tocar?
Quais elementos musicais serão tocados por um só instrumento (solo), e quais serão dobrados por dois ou mais instrumentos?
Como um acorde será distribuído entre os instrumentos disponíveis?
São aconselhadas adaptações dos elementos originais da música para melhor aproveitar as características dos instrumentos disponíveis?
Essas são só algumas das decisões que o orquestrador tomará para cada nota da música. E não se engane achando que essas escolhas são meramente detalhes; todas essas escolhas têm um grande impacto no resultado dessa obra!
Um bom exemplo de escrita orquestral
Com tudo isso em mente, é hora de analisar a obra a ser orquestrada!
Para aprofundarmos o assunto, trago um grande exemplo de orquestração feito por Maurício Ravel, compositor francês, em 1922. Ele orquestrou uma peça originalmente escrita para piano de Modest Mussorgsky, compositor Russo, escrita em 1874. O nome da obra é "Quadros de uma Exposição". Convido você a ouvir um trecho comparativo no video abaixo.
É bonito observar como um orquestrador, sem alterar as notas musicais escritas pelo compositor, sem alterar forma ou outros elementos da composição, consegue dar uma outra vida a um criação musical através da escolha dos instrumentos.
Se você tem interesse em aprofundar outros aspectos deste assunto, eu recomendo um artigo que escrevi sobre a relação entre instrumentação e orquestração: "Instrumentação e orquestração - o estudo da escrita musical para grandes grupos."
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Sobre o autor
Rafael Piccolotto de Lima foi indicado para o Grammy Latino como melhor compositor erudito. Ele é doutor em composição de jazz pela Universidade de Miami e tem múltiplos prêmios como arranjador, diretor musical, produtor e educador.
Suas obras foram estreadas e/ou gravadas por artistas como as lendas do jazz Terence Blanchard, Chick Corea e Brad Mehldau, renomados artistas brasileiros como Ivan Lins, Romero Lubambo, e Proveta, e orquestras como a Jazz Sinfônica Brasileira, Orquestra Sinfônica das Américas e Metropole Orkest (Holanda).
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